O Curta Metragem “Uma Vida Inteira”, dos diretores Bel Ribeiro e Ricardo Santini , com Alice Braga e Bruno Autran no elenco é baseado na crônica “O salto” de Antônio Prata. Ele mostra o retrato de anseios e preocupações de uma geração de jovens adultos independentes, focados em suas carreiras e carentes de afeto. Entre a primeira noite de um casal e a premonição do fim do relacionamento, pode caber uma vida inteira.
Gênero: Ficção
Subgênero: Prêmio Porta Curtas
Diretor: Bel Ribeiro, Ricardo Santini
Elenco: Alice Braga, Bruno Autran
Duração: 15 min Ano: 2012 Bitola: Digital
País: Brasil Local de Produção: SP
Cor: Colorido
Produção: Juliana Borges
Fotografia: Leo Ferreira
Roteiro: Bel Ribeiro, Ricardo Santini
Som Direto: Geraldo Ribeiro
Direção de Arte: Taisa M. Rodrigues
Figurino: Miki Shimosakai
Maquiagem: Ebony, Simone Souza
Produção Executiva: Bel Ribeiro, Magda Barbieri, Ricardo Santini
Finalização: Mayra Ferro, Quanta Post
Montagem: Marcio Hashimoto
Trilha Sonora: Fabio Góes
O salto
Antonio Prata
A gente não tem como
saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde
você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato —
pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento
de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode
estar nos esperando então e o presente — você acabou de sair da minha casa, seu
cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes?
Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo
girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas.
Passos improvisados
de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos
queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que
deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessaire
(para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés,
banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto
subimos e descemos com as ondas — mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e
gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas
cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da
cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã,
enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa
maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao
mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas
descobertas, que sou feliz.
Talvez, céus nublados
e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver
palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até.
Depois faremos as pazes. Ou não?
Tudo que sabemos
agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de
nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e
sorte – sobretudo, talvez, sorte — quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco
impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa
que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos
as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos
enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não
temos como saber se vai dar certo — o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos
os pés do chão –, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o
salto.
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