Depois de viver longos anos, será que
os idosos continuam sendo felizes? Os cuidados que tiveram para com os seus
filhos, hoje são reconhecidos ou retribuídos?
Por Ana Paula Marques, Bianca Souto e Caroline Farias
Muitas vezes, ouve-se falar, em reportagens e noticiários, fatos de
abandono e maus tratos contra idosos. Segundo os especialistas, a falta de bom
senso e compreensão faz com que filhos e parentes acabem por realizar tais
atrocidades. Sem ter para onde ir, vários acabam indo parar em lares de idosos,
organizações que acolhem e cuidam para que essa situação se amenize . Esse é o
caso do Lar de Idosos Santa Bárbara, localizado na ladeira da Soledade, em
frente ao Colégio Soledade, ao lado do Instituto de cegos e surdos da Bahia,
que abrigando 13 idosos, muitos deles com problemas psicológicos, passa por
muita dificuldade para manter-se em funcionamento.
Essa instituição foi fundada em 2002, a partir de
uma indenização de trabalho recebido por um dos fundadores do abrigo. Com o
dinheiro em mãos e com o apoio da família, resolveu investir em um trabalho
social bastante gratificante, em um terreno alugado, com custo mensal de R$
1.400. A princípio, eram apenas dois idosos e depois, com as indicações de
outros lares, a família foi crescendo até chegar ao número que tem hoje.
Apesar das dificuldades, o abrigo responsabiliza-se por tudo. “Pegue um idoso que não tem beneficio, que não tem recurso e que não
tem família, e aqui ele vai ser por conta da gente, a casa tem que arcar com tudo”,
diz Cristina uma das responsáveis do abrigo. Além disso, os três funcionários
ainda têm que lidar, muitas vezes, com o descaso por parte das famílias dos
seus pacientes: “Tem família que vem só para fazer o pagamento, aí paga e vai
embora. Tem outros que vem com frequência para visitá-los, mas na maior parte, a
família não vem ver, entrega o beneficio (mensalidade) e deixa eles aqui, então
somos nós, o Ministério Público e Deus”, completa Cristina.
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Cristina,
responsável pelo abrigo.
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São muitos os idosos que dependem dessa
instituição, porém o Ministério Público exigiu que o lar realizasse uma série
de reformas para proporcionar um melhor conforto para os pacientes do local,
caso contrário poderia correr o risco de ser fechado. Sem ter condições de
arcar com tais custos, o abrigo depende de donativos de todas as espécies,
desde pisos antiderrapantes, corrimãos, areia, arenoso, cimento, até lençóis e
alimentos.
Cabe destacar que a maioria dos idosos do local
já passou por diversas dificuldades, como é o caso de Antônio de Jesus, 64 anos,
que depois de sofrer um grave acidente que resultou na perda da sua visão, mostra
toda a sua força e fé em Deus afirmando: “Estou feliz, estou gostando, estou
muito bem, graças a Deus”.
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“Não
choro, não fico triste, por que meu coração é limpo, mas sou decidido.”
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Há quanto tempo está aqui no abrigo?
Em nome do Senhor Jesus, vim no dia 13 de julho
de 2012.
O senhor está aqui por necessidade?
Por necessidade, eu vim por necessidade, precisei
vim. Não pude ficar mais ficar sozinho em casa, por que não podia mais
cozinhar, não podia mais varrer a casa, nem limpar nada, então a filha do
vizinho me trouxe aqui, para eu fazer o tratamento, para conseguir, com fé em
Deus, voltar para casa. Eu me virava muito bem, mas depois que fiquei cego, não
pude mais fazer nada sozinho. Antes eu costumava sair quatro vezes por semana para
ir à igreja.
Como o senhor descreve o tratamento do local? O
senhor está feliz?
Estou feliz, estou gostando, estou muito bem,
graças a Deus. Fez um mês que eu estou aqui. O tratamento aqui é bom, muito bom mesmo, o tratamento, a cortesia,
graças a Deus.
Se o senhor tivesse a possibilidade de voltar para
casa, o senhor preferia voltar ou ficar aqui?
Preferia voltar pra casa. Tenho casa graças a
Deus, tenho uma casa com quatro cômodos, tenho geladeira, tenho fogão, tenho
bujão, tenho guarda-roupa, tenho cama, tenho colchão, tenho sofá, tenho comida
dentro de casa, tenho tudo.
O senhor costuma fazer passeios durante o tempo
livre que o senhor tem aqui?
Eu só não saio porque não tem com quem sair, mas
se eu tivesse, eu sairia. Tem um mês que eu não vou à igreja, mesmo localizada
aqui perto, não tem ninguém que me leve. A moça chegou aqui e conversou comigo
e disse que vai trazer uma obreira aqui pra me levar três vezes na semana, mas
não apareceu ainda. Estou ansioso para que isso aconteça logo.
O senhor recebe visita de algum parente ou amigo?
A família que me colocou aqui vem sempre, só na
casa da vizinha são cinco pessoas, ainda vêm mais três amigos que não são de
lá. Quando não vem, liga para saber como é que eu estou. É assim, graças a
Deus. No conjunto residencial em que eu morava tinha muitos amigos, vários já
vieram me visitar, só uma amiga que não veio ainda porque está muito ocupada,
Rosana, foi justamente ela que organizou as coisas para que eu viesse para cá,
mas a mãe dela já veio. Agora eu tenho cinco sobrinhos que moram em Pernambués,
ainda não vieram aqui porque eu estou sem o telefone deles, e eles sem o meu.
Tenho 20 anos no comércio, estou sem o telefone do pessoal que trabalhou
comigo, todos os amigos meus bacanas mesmo.
Como o senhor avalia a sua saúde?
A responsável pelo abrigo me leva para fazer uma
revisão no médico clínico e fazer uma revisão nas vistas. Meus médicos são na
Avenida Sete e nos Barris: o da vista é nos Barris e o médico clínico é na
Avenida Sete. O problema são os custos. Só para providenciar um exame que fiz
no ano passado foi R$ 70,00 reais. Só o colírio é quase R$ 100,00 reais, mas
graças a Deus estou muito bem, esperando em Deus para voltar para casa, e
voltar a trabalhar de novo.
O senhor possui alguma renda? O que você faz com
essa renda?
A gente procura ajudar a instituição com o
salário que ganha. A responsável pelo abrigo aqui não tem ajuda da mídia, muita
gente promete ajuda, mas não aparece. É Deus, ela e o salário que nós ganhamos.
E o senhor tem alguma preocupação com os seus parentes,
com sua saúde?
Não, não me preocupo com nada, entrego tudo nas
mãos de Deus. Não choro, não fico triste, porque meu coração é limpo, e sou
decidido. Não levo recado para casa, não gosto de falsidade e nem tão pouco de
mentira, sim é sim e não é não.
O senhor antes de vim para cá, usava transporte
coletivo?
Usava. Havia um rapaz me levava e me trazia. Eu
entrava pela frente e ele pelo fundo. Ele me levava para o médico, e também
para a igreja. A igreja era perto de casa, tinha muita gente de lá que me levava
e me trazia de carro.
Como o senhor era tratado nos ônibus?
Tratavam-me bem, graças a Deus. Quando eu entrava
as pessoas levantavam e me davam o lugar. Um dia um rapaz me olhou e falou
assim: - rapaz, você é deficiente? - Sou meu filho, foi de repente assim. A
gente tem prazer em ver os outros pegando no braço para nos levar quando
termina a reunião da igreja, por exemplo.
Foi esse ano mesmo que o senhor ficou deficiente
visual?
Não. Fiquei assim depois de cair ácido nos meus
olhos, na empresa em que trabalhava antigamente. Eu já estava em tratamento
desde 2003 e até hoje continua. Quando foi em 2006 me mandaram para casa e me
afastei da empresa em que eu trabalhava no comércio. Doutor Alexandre foi o meu
médico por anos e então resolvi trocar de médico. Passei pelas mãos da Dra.
Tânia, Dra. Márcia, Dra. Maria Luisa e Dona Maria Barrotide.
Com que o senhor trabalhava, antes do acidente?
Eu trabalhei com doze carros, mas não gostava de
dirigir, então eu não aprendi a dirigir porque não tive vontade, mas graças a
Deus trabalhei 20 anos, só no comércio eu trabalhei dez vezes no comércio: Boa
viagem, Baixa do Bonfim, tudo eu trabalhei.
E os jovens te respeitavam?
Respeitavam muito graças a Deus, eu fiz muita
amizade, trabalhei em uma repartição, tinha mais de trinta pessoas, e todos me
respeitavam, só saí do trabalho para continuar o tratamento da minha visão.
E que mensagem o senhor gostaria de deixar para a
sociedade em relação ao tratamento aos idosos e para algumas pessoas que têm
medo de ficar abandonado?
Não tenha medo, tenha fé em Deus, primeiramente
Deus, faça seus exames, faça o tratamento, consiga o remédio, tenha sempre
responsabilidade com a alimentação, comer muita verdura; a dona daqui é
enfermeira, cuida da nossa dieta. Então é só se tratar e ter fé em Deus que
tudo vai ficar bem.
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Por Ana Paula (15 anos), Caroline (15 anos) e Bianca (16 anos).
São alunas do curso de Química (IFBA/Salvador). |
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