sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Onde está o valor do trabalho árduo?

Você já notou a importância que os funcionários em geral possuem? A “tia” do pavilhão 7 esclarece  essa questão.
Por Maiara Sousa, Olívia Cristiane e Laíse Caroline.
Imagine você entrando em sua sala de aula e a encontrando toda desarrumada, cadeiras fora do lugar e lixo por toda sala, dando até desgosto de estudar. Então você fica surpreso ao descobrir que não há funcionários e a sua única saída é pegar o pano de chão, a vassoura e mãos à obra! Agora, pense em fazer isso todos os dias... Seria bem cansativo, concorda?
Esse é o papel das “tias”, que além de trabalharem arduamente, não tem o devido reconhecimento, já que seu salário mal dá para o seu sustento. Além disso, tanto estudantes quanto professores não percebem o seu valor. Para os alunos desfrutarem da educação qualificada que o Instituto oferece é imprescindível a atuação desses servidores.
É importante salientar que, pelo fato de os funcionários serem pagos para efetuarem o seu trabalho, não significa que não são dignos de consideração. Se pensarmos nos diversos ídolos brasileiros, veremos que tal qual a “tia” eles também são pagos para fazer seus trabalhos, contudo, são excessivamente valorizados. A diferença é esta: o papel das “tias” é útil para você, entretanto os cantores, por exemplo, não lhes traz nenhum benefício, senão momentos prazerosos.
A “tia” do pavilhão 7, que trabalha há 13 anos no Instituto Federal da Bahia, é a nossa entrevistada. Vejamos o quanto ela tem a nos ensinar. 
Qual a sua idade? Afinal, como é seu nome?
Eu tenho 52 anos e meu nome é Lenice Maria de Souza.
O que te levou a trabalhar aqui?
O desemprego e a falta de oportunidades me levaram a aceitar essa profissão.
A senhora se sente bem trabalhando aqui? Os alunos te respeitam? Comente.
Eu me sinto bem. Os alunos me respeitam na medida do possível, mas sempre existem aqueles com falta de educação, porém aprendi a conviver com isso. Os estudantes precisam seguir as regras. Por exemplo, não é permitido entrar na sala com lanche, entretanto a maioria não respeita e isso acaba gerando confusões. Já aconteceu um caso em que uma  jovem derramou suco na sala e só porque a funcionária, sem grosseria, comentou, ela a insultou afirmando que era a sua obrigação limpar. É preciso ter um sistema mais rígido, pois as regras existem, porém não são cumpridas. Comigo não aconteceu nada parecido, a não ser algumas vezes em que alguns passam por mim e não dão nem um bom dia; outros não entendem quando peço para sair da sala para limpá-la. Contudo, não tenho do que me queixar, eu os respeito e eles me respeitam também, do jeito deles...
Como a senhora descreve sua importância aqui no IFBA?
Eu acredito que aqui no IFBA eu não tenha tanta importância e sim no meu setor, meu serviço. Afinal, eu sou terceirizada, a relação é entre o IFBA e empresa da qual faço parte. Minha relação é diretamente com ela. E eu acho que o Instituto dá importância ao meu trabalho, pois se não eu já teria sido trocada e, além disso, ele paga bem a minha empresa.
Como seria o IFBA sem as suas funções?
Eu acho que ficaria difícil para os próprios alunos, pois eles teriam que chegar e arrumar a sala. Sem a mão de obra da limpeza não teria como estudar, já que para haver educação é necessário higiene, limpeza e organização.
A senhora tem filhos? Eles estudam aqui?
Sim, tenho uma filha e ela não estuda aqui, pois já concluiu o ensino médio. Fez curso de enfermagem e hoje trabalha. Na verdade, ela nunca quis estudar aqui, até porque é mais um ano; é cansativo e eu a deixei escolher.
Por ter uma filha jovem, a senhora acha que isso facilita sua relação com os jovens daqui do IFBA?
Não muito. Porque cada um tem seu modo diferente de ser. O jeito como eu trato minha filha é algo mais íntimo, já os estudantes daqui eu trato com educação também, mas não é a mesma coisa.
O seu salário é proporcional ao seu trabalho?
Não. Porque o meu trabalho aqui no pavilhão é cansativo e creio que o salário deveria ser melhor. Mas, na maioria dos casos os funcionários em geral, não ganham muito bem.
O que é mais vantajoso: ser funcionário público ou terceirizado?
Ser funcionário público é melhor porque possui maior estabilidade e maior salário. Já o terceirizado, não tem muitas vantagens, já que você pode perder o seu emprego, sendo trocado e o salário é menor. De qualquer forma, estou empregada e isso é mais importante.


Quais critérios a empresa leva para trocar os funcionários?
A pontualidade, quantidade de atestados médicos, enfim, a responsabilidade. Nunca vi uma pessoa que segue esses critérios ser trocada, contudo a empresa sempre vai buscar o melhor, por isso existe essa troca.
O que a senhora seria se não fosse funcionária?
Eu já trabalhei de caixa e empacotadora e gostaria de outras oportunidades como estas. Porém, que seja algo onde eu tenha experiência porque não é agradável nem correto ter um emprego no qual haja dificuldades em efetuá-lo. Confesso que tenho o sonho de terminar os meus estudos, pois nunca é tarde para estudar e é assim que se exerce funções qualificadas e oportunas. Só que o meu tempo é curto e não permite que eu estude.
Como é o seu convívio com os outros funcionários?
Procuro manter uma relação profissional, porque existe sempre inveja por parte de alguns. Então, por essas questões é bom ser prudente, principalmente pela questão da troca de funcionários.
Quando a senhora se aposentar vai sentir saudade do seu trabalho?
Não, mas sentirei falta de alguns alunos; de acordar cedo, essas coisas. E aposentada poderei descansar e terei mais tempo livre.    Então, espero muito por isso, é um dos meus sonhos.
Qual a sua relação com os professores?
A maioria deles são educados, mais existem alguns que não tem consideração e muitos alunos veem isso. Para o professor que é um educador, usar educação é fundamental. 
As autoras dessa entrevista são alunas do IFBA, campus Salvador (Química).

Da esquerda para a direita:
Laíse Caroline, 
  Olívia Cristiane  e Maiara Sousa.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Dilma sanciona lei que cria cota de 50% nas universidades federais

Presidente determinou que a seleção dos estudantes seja pelo Enem.
Cotas são para alunos de públicas.
 
A presidente Dilma Rousseff sancionou nesta quarta-feira (29), com apenas um veto, a lei que destina 50% das vagas em universidades federais para estudantes oriundos de escolas públicas.
 
De acordo com a lei, metade das vagas oferecidas serão de ampla concorrência, já a outra metade será reservada por critério de cor, rede de ensino e renda familiar. As universidades terão quatro anos para se adaptarem à lei. Atualmente, não existe cota social em 27 das 59 universidades federais. Além disso, apenas 25 delas possuem reserva de vagas ou sistema de bonificação para estudantes negros, pardos e indígenas.
 
Durante a cerimônia de sanção, que foi fechada à imprensa, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o Brasil tem um “duplo desafio”: o de democratizar o acesso às universidades e o de manter um alto nível de ensino e a meritocracia.
 
“O Brasil precisa fazer face frente a esses dois desafios, não apenas um. Nada adianta manter uma universidade fechada e manter a população afastada em nome da meritocracia. De nada adianta abrir a universidade e não preservar a meritocracia”, afirmou a presidente.
 
A cota racial será diferente em cada universidade ou instituto da rede federal. Estudantes negros, pardos e índios terão o número de vagas reservadas definido de acordo com a proporção dessas populações apontada no censo do IBGE de 2010 na unidade da federação em que está a instituição de ensino superior.
 
As demais vagas reservadas serão distribuídas entre os alunos que cursaram o ensino médio em escola pública, sendo que no mínimo metade da cota (ou 25% do total de vagas) deverá ser destinada a estudantes que, além de ter estudado em escola pública, sejam oriundos de famílias com renda igual ou inferior a um salário mínimo e meio per capita.
 
A proposta exige que as instituições ofereçam pelo menos 25% da reserva de vagas prevista na lei a cada ano.
 
Segundo informou a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, Dilma fez apenas uma alteração no texto aprovado pelo Senado no último dia 7 e determinou que a seleção dos estudantes dentro do sistema de cotas seja feita com base no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
 
Dilma vetou o artigo 2º do texto, que previa que a seleção dos estudantes pelo sistema de cotas fosse feita com base no Coeficiente de Rendimento (CR), obtido a partir da média aritmética das notas do aluno no ensino médio.
 
“Foi um veto que resultou de uma opinião unânime do governo federal na medida que o MEC (Ministério da Educação) tem trabalhado para constituir o Enem como a forma universal de acesso a universidades federais”, afirmou Luiza Bairros.
 
 A lei deverá ser publicada no “Diário Oficial da União” desta quinta-feira (30), data a partir da qual começa a contar o prazo de quatro anos para as universidades se adaptarem à lei.

Disponível em:<http://g1.globo.com>.

La Gioconda em pixels... Quando Mona Lisa fugiu de sua tela a óleo

Se Da Vinci vivesse no século XXI, certamente jogaria os pincéis para cima, pediria mouse, Illustrator e um pacote de Doritos.
O jovem artista Artur Prudente tem certeza que sim!

Por Moranguinho do Nordeste
 
Renascentistas, cubistas, impressionistas, expressionistas, modernistas, istas, istas e istas... A arte não é independente, se molda ao local, ao tempo e à ideologia da época. Neste século, marcado por avanços tecnológicos, não é diferente. As obras fugiram das telas convencionais e encontraram refúgio nos monitores dos pc’s de artistas gigamodernos, como o Artur.
Artur Prudente (16 anos) é aluno da School of art game and animation (Escola de arte, jogo e animação), a Saga, que possui uma unidade aqui em Salvador. Ele e muitos outros jovens, que despertaram o interesse pelas artes visuais, buscam trabalhar com vídeo, propaganda e principalmente jogos e animações, que deixaram para trás seus antepassados quadrados e 2d, graças a artistas dedicados como ele.
Pruda, como é chamado o Artur, nos contou como uniu o pincel e o mouse... 
"Não desistam, mesmo que achem que isso não tem futuro"!
Quando você começou a tomar gosto por arte? 
Quando eu tinha 9 anos e comecei pintar... Eu vi uma placa de aula de pintura ao lado da minha casa. Deu vontade, pedi para o meu pai, comecei e não parei mais.

Quem te incentivou a tornar o hobby de infância mais sério? E como você deu o primeiro passo para tal? Eu simplesmente comecei a melhorar e perceber que a pintura ainda era muito maior do que eu pensava e que eu realmente gostava de tudo que eu fazia. Aprendi muito, até que chegou uma hora em que não tinha nada mais que eu quisesse fazer seriamente, além disso.
 
Quando e como você começou a trabalhar com arte utilizando o computador?  
Parecia legal a ideia de trabalhar nessa área. Quando eu conheci e entrei na SAGA, comecei a lidar com Photoshop e pintura digital e conversei com os professores e pessoas que trabalhavam com isso também.
Como foi a troca do pincel pelo mouse?  
 
Para se trabalhar com o mouse não é difícil, só quando se faz pintura digital, em que você usa as tablets, em que você mexe nos programas usando algo parecido com uma caneta.
 
O que você aprendeu/aprende na SAGA?
 
Design gráfico, computação gráfica em geral, publicidade... Aprendi a, por exemplo, modelar, texturizar e animar em 3d, a utilizar dois programas diferentes de edição de vídeos. Além de muitos outros programas (Photoshop, Ilustrator, Maya...), mas sem muita profundidade. Se quiser se especializar em algum o aluno faz isso sozinho.
 
 
Você já ganhou alguma grana com isso?
 Já fiz um estágio em pintura digital que me deu bastante dinheiro.

Você falou que chegou um momento em que não tinha nada mais que quisesse fazer seriamente além de trabalhar com artes visuais. Que plano você tem para o futuro em relação a isso? Tem alguma empresa na qual queira trabalhar? Quer cursar alguma faculdade?
 
Para o futuro eu planejo fazer Belas artes e alguns cursos profissionalizantes fora do país. Tenho alguns projetos, mas eles envolvem aprender ainda mais coisas que serão úteis somente quando eu estiver trabalhando. Gostaria muito de trabalhar na Blizzar, que é uma empresa de jogos, ou no estúdio Ghibli que é um estúdio de animação.
 
Para finalizar: Que conselho você deixaria para os jovens que querem, como você, trabalhar com artes visuais?
Não desistam, mesmo que achem que isso não tem "futuro"! 


Glossário:
La Gioconda: Outro nome dado à Mona Lisa de Da Vinci.
Illustrator: Programa de computador que permite criar e editar imagens.
Doritos: Salgadinho de tortilla que foi lançado em 1964 no mercado norte-americano pela Alex Foods, com formato triangular e crocante, cujo sabor mais popular é o de que queijo nacho (Nacho Cheesier) - um queridinho dos adolescentes.

Sobre a SAGA (School of art game and animation): http://www.saga.art.br/

A entrevista com Artur foi realizada por Larissa Pereira, Lorena Brito e Sabrina Bomfim, alunas do 1º ano do Ensino Médio (Química/IFBA).  


terça-feira, 28 de agosto de 2012

Entrevista com ACM Neto

                                                         Será o retorno do Carlismo?

Para os jovens eleitores, quem realmente é ACM Neto? Será que é apenas o reflexo do avô? O candidato à Prefeitura de Salvador vai além desse parâmetro.
 
                                           Por Débora Oliveira, Elizabete Araujo e Kamilla Carvalho 

Antonio Carlos Peixoto de Magalhães Neto, herdeiro de uma das mais tradicionais famílias políticas do país, está no terceiro mandato como Deputado Federal e tem conseguido aprovar muitos projetos em prol da Bahia. Apesar de ser neto do falecido Antonio Carlos Magalhães (ACM), uma das figuras baianas mais importantes da esfera política, ele tem mostrado uma campanha nova, distanciando-se do “carlismo”.  Aos 33 anos, disputa pela segunda vez a candidatura à Prefeitura de Salvador.
A sua campanha política em 2012 é baseada nos seguintes aspectos: criar um centro de advocacia voltado para mulheres vítimas de violência doméstica; planejar uma educação em tempo integral, além de requalificar o grande potencial da nossa cidade, o turismo, dentre outros. Com essas propostas, ACM Neto parece estar agradando a população de Salvador, já que aparece em primeiro lugar na pesquisa de intenção de votos.
 
 
“Não podemos deixar que o único legado da Copa seja
um estádio construído pela iniciativa privada.”
O que levou o senhor a seguir a carreira política?
A política está no meu sangue. Desde muito cedo, participo das campanhas de meu avô, do meu tio e de outros políticos. Além disso, tem a vocação natural. Poderia ter optado por seguir carreira no Direito ou no setor empresarial, mas o que gosto de fazer mesmo é servir na vida pública.
 
Quando era estudante do Ensino Médio, foi integrante de algum grêmio? Se sim, como essa participação ajudou-o a decidir pela política?
Fui sim. Também fui síndico mirim do meu prédio. Ou seja, sempre gostei de participar  desses movimentos.
 
Como sua formação em Direito ajuda na vida política?
O Direito me ajuda muito no Congresso, onde a gente tem que estudar e saber muito sobre a Constituição, as leis e o Regimento Interno.

O que te levou a abandonar o cargo de Deputado federal para ser candidato à prefeitura de Salvador?
Não abandonei o cargo. Continuo deputado e líder do Democratas. Optei por ser candidato porque quero trabalhar para resgatar a autoestima da nossa cidade. Estou preparado para isso.
 
A sua escolha como candidato do DEM causou muitos rumores. A mídia, por exemplo, sugeriu que sua candidatura foi imposta, isso é verídico?           
Só se foi imposta pela vontade popular. A minha candidatura nasceu nas ruas de Salvador. Não foi de vontade própria ou imposta por nenhum partido. De modo que isso mais parece choro de quem está mais preocupado em fazer politicagem.  
O que diferencia o senhor dos outros candidatos?
 
Eu acredito que Salvador pode voltar a andar com as próprias pernas, resgatando sua capacidade de investimento e planejamento do futuro. Ao contrário dos meus adversários, eu apresentei um plano de governo com esse objetivo.
 
No cenário atual, o grande desgaste de Jaques Wagner e de Nelson Pelegrino,
devido às greves, realmente favorece a sua candidatura?
 
Nunca, em momento algum, a gente tirou proveito político da greve, como fazia o PT no passado. A gente faz política de outra forma. No entanto, acredito que o movimento contribuiu para o desgaste do PT sim.  
Na sua campanha política, o senhor tem dado enfoque às mulheres, escolhendo uma representante feminina como vice. Conte-nos sobre o seu projeto de criar um Centro de advocacia voltado às mulheres vítimas de violência doméstica.
Esse centro vai funcionar em convênio com entidades como o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil. Ele é prioridade em nosso plano de governo. Além disso, também vamos construir uma maternidade no Subúrbio e implantar programas de capacitação profissional voltados para as mulheres.
 
Quais as suas propostas para a educação? E como se contrapõem ao descaso em que se encontra a educação soteropolitana?
Vejo um descaso no âmbito estadual. Em Salvador, temos problemas, mas houve avanços. Hoje, tem professor da rede municipal em Salvador ganhando quase R$10 mil. Todo mundo reconhece isso, inclusive o PT já o fez de público. A Secretaria Municipal da Educação, ao contrário do governo do estado, concedeu o reajuste de 22,22% e tem honrado os compromissos com a categoria. Agora, claro que precisamos avançar muito, inclusive na melhoria das condições físicas das escolas. A escola precisa ser voltada para toda comunidade, e não apenas para os alunos, e tem que ser em tempo integral. Nós vamos implantar Centros de Educação Integral inicialmente em Cajazeiras e no Subúrbio, além de aumentar o tempo de aula em toda rede em uma hora.
 
Sabemos que Salvador vive também do turismo, no entanto, presenciamos, nos últimos anos, o descaso dos governantes com centros turísticos importantes para a economia soteropolitana. Prova disso, é o abandono em que se encontra o Pelourinho. Quais os seus projetos, caso seja eleito, para a área de turismo em Salvador?
A grande indústria de Salvador é a do turismo. Essa é a vocação da nossa cidade. Por isso, vamos requalificar o Centro Antigo da cidade, que vai ganhar dois museus, o da Música e da Baianidade; e a orla, que precisa de novos investimentos do setor privado, e vai ganhar com incentivos fiscais. Além disso, na orla vamos ampliar calçadões e organizar o comércio informal. Queremos também estimular o primeiro emprego de jovens com cursos de qualificação voltados para o setor turístico. Temos uma Copa do Mundo se aproximando e essa é uma oportunidade única para a cidade. Não podemos deixar que o único legado da Copa seja um estádio construído pela iniciativa privada.
 
Da esquerda para a direita: Elizabete (15 anos), Débora (15 anos)
e Kamilla (14 anos).

P.S.: Este Blog possui um cunho estritamente educacional. A entrevista, aqui exposta, foi realizada na disciplina de Língua Portuguesa, sob a orientação da Profa. Msc. Solange Santana. Além da produção textual contextualizada e significativa, objetiva-se promover o senso crítico dos jovens educandos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Entrevista com Mário Kertész

                                                  Vale a pena apostar novamente? 

Os jovens eleitores não sentiram e nem viram o outro governo. Afinal, o passado do candidato à prefeitura de Salvador, Mário Kertész, influenciará no seu governo atual, caso seja eleito?

Por Débora Oliveira, Elizabete Araujo e Kamilla Carvalho
 
Mário de Melo Kertész, político, administrador e radialista, tenta pela terceira vez a posse do Palácio Tomé de Souza. O candidato administrou Salvador entre 1979 e 1981, sendo indicado por Antonio Carlos Magalhães. Já seu segundo mandato, ocorreu por meio do voto popular, sendo o primeiro prefeito de Salvador escolhido após a Ditadura Militar.
Nesta entrevista, Mário Kertész conta porque voltou a concorrer à prefeitura de Salvador após 23 anos afastado da política, como sua experiência administrativa pode lhe favorecer, esclarece questões sobre sua relação com ACM e outros. Kertész se considera o candidato mais capacitado ao cargo, preparado, assim, para enfrentar e vencer os problemas de Salvador.
“Me afirmo como único candidato que pode trazer o melhor do carlismo [...] e o melhor do petismo [...].”
O que levou o senhor a seguir a carreira política?
O amor e a vontade de trabalhar pela cidade. Por isso, comecei minha vida pública muito cedo. Aos 22 anos, fui convidado pelo professor Luís Sande para ser diretor da Secretaria de Indústria e Comércio de Salvador. Depois, fui subsecretário da Secretaria Municipal da Fazenda, na gestão de Antonio Carlos Magalhães. Em 1967, presidente da Fundação de Planejamento (CPE) e secretário de Planejamento, de 1971 a 1975. Quatro anos mais tarde, ACM me indicou para ser prefeito, cargo que ocupei até 1981. Em   1986, retornei ao cargo, eleito por 67% pela população soteropolitana na primeira eleição direta municipal. Tive um mandato de três anos. Em 1988, consegui eleger meu sucessor e, em 1992, encerrei minha carreira política.
Quais motivos, depois de 23 anos fora de disputas eleitorais, o fizeram voltar à vida política?
O entendimento de que a cidade está, neste momento, abandonada, desassistida de tudo - saúde, educação, segurança, mobilidade urbana - com a autoestima lá em baixo. Acredito que tenho um bom projeto para governá-la. Salvador precisa de um prefeito que seja administrador, cumpra o seu mandato de quatro anos, sem pretensões de esticá-lo por mais quatro, e consiga, ao lado de uma boa equipe, dar à nossa cidade a infraestrutura que ela precisa para estar entre as melhores capitais do país. Em razão desse projeto, que nenhum outro candidato pode oferecer, resolvi me candidatar. Estou disposto a dar toda a minha energia para cuidar de Salvador.
O senhor é formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal da Bahia. Também trabalhou como professor. Como sua formação ajuda na vida política?
É muito importante. Os conhecimentos adquiridos na faculdade de Administração ajudaram bastante a compreender a gestão municipal. Administrar uma cidade é uma tarefa muito complexa. Quanto mais capacitada a pessoa estiver, mais fácil conseguirá atender às demandas dos cidadãos.
No cenário atual, o grande desgaste de Jaques Wagner e de Nelson Pelegrino devido às greves realmente favorece a sua candidatura?
O que favorece a minha candidatura é o fato de eu ser o único candidato na disputa que não tem pretensões políticas, que não quer usar a Prefeitura como trampolim para 2014 ou fatiá-la entre dezenas de partidos aliados. Eu só quero governar Salvador por quatro anos e buscar soluções para os problemas sem medo de cara feia e com uma equipe técnica qualificada. O desgaste do governador é natural e reflexo de alguns equívocos de sua gestão. Faz parte do jogo político. Wagner é meu amigo, uma pessoa com quem tenho uma boa relação. Caso seja eleito, sempre que for preciso, não terei problema nenhum em sentar para conversar e cobrar mais ações para a cidade.
Quais as suas propostas para a educação? E como se contrapõem ao descaso em que se encontra a educação soteropolitana?
Tenho um projeto para educação na cidade, coisa que o atual prefeito nunca teve. No meu plano de governo, que em breve estará disponível no meu site, irei detalhar todas as ações. As principais ações serão a adoção do Sistema Integral, em que o aluno permanecerá na escola o dia todo; a construção de Centros Comunitários de Esportes e Lazer nos bairros, em parceria com a iniciativa privada; acelerar a implantação de banda larga e a oferta de laptops aos estudantes e a criação de um plano de cargos e salários para os professores.

Sabemos que Salvador vive também do turismo, no entanto, presenciamos, nos últimos anos, o descaso dos governantes com centros turísticos importantes para a economia soteropolitana. Prova disso, é o abandono em que se encontra o Pelourinho. Quais os seus projetos, caso seja eleito, para a área de turismo em Salvador?
O turismo será um dos pilares do meu governo. Salvador é uma cidade de vocação turística, que precisa ser aproveitada e potencializada. Por isso, criarei a Secretaria de Turismo, onde trabalharei dia e noite, junto com a minha equipe, para revitalizar o Centro Histórico e todos os pontos turísticos da cidade. Já enfrentei uma realidade de abandono parecida com essa quando fui prefeito e consegui, com ações enérgicas e planejamento, modificá-la. Com o mesmo afinco, enfrentaremos esses e outros problemas e venceremos novamente.
Na sua campanha política, o senhor dá ênfase à cultura baiana e como valorizá-la. Com relação à Copa de 2014, como o seu governo pretende preparar Salvador?
Vou melhorar a cidade e prepará-la para receber dignamente os turistas e os moradores. É o que dá para fazer no curto tempo que restará até os jogos. O futuro prefeito terá apenas 18 meses para por ordem na casa e deixar Salvador arrumada para a Copa do Mundo de 2014. Seria muito fácil chegar aqui e prometer coisas mirabolantes, como alguns vêm fazendo, para depois não cumpri-las. Mas temos que ser realistas, enfrentar e vencer com muito trabalho a nossa realidade atual.
No debate promovido pela TV Bandeirantes, o senhor disse: “As coisas ficam muito parecidas. No final, eu acho que o que vai valer é a capacidade e a experiência". Isso revela que o senhor tem vantagens sobre seus candidatos, por ter administrado Salvador duas vezes?
Sem dúvida nenhuma. Dentre os nomes que disputam esta eleição, sou o único que já foi prefeito e atuou durante muitos anos no Poder Executivo. Uma cidade tão cheia de problemas como Salvador precisa de um gestor competente, experiente e que saiba montar uma boa equipe. E tudo isso eu já fiz e, se for a vontade da população, farei novamente.
Durante seus dois mandatos como prefeito, o que o senhor fez de mais importante para a capital baiana?
Fiz várias obras importantes, em especial as relacionadas à mobilidade urbana. No meu segundo mandato, deixei Salvador preparada para receber um sistema de transporte com diversos modais, ônibus articulados e Veículos Leves Sobre Trilhos, o que, com certeza, amenizaria os transtornos atuais do trânsito. E isso foi há 24 anos. Infelizmente, por questões políticas, os gestores que me sucederam não deram prosseguimento ao projeto e deixaram a cidade à mercê da falta de planejamento.
Uma das suas frases marcantes foi dita no programa Brasil Urgente, quando perguntado sobre uma aproximação com João Henrique: "Vade retro, Satanás". Em que aspectos suas propostas se diferem do atual Prefeito de Salvador?
Em tudo. Ao contrário dos outros candidatos, que tiveram participação importante nos oitos anos do governo atual e hoje são apoiados ou pelo partido dele ou pelo próprio prefeito, posso dizer tranquilamente que ele é uma pessoa sem a menor qualificação para exercer o cargo que ocupa. Sempre fiz oposição ao prefeito, e a rádio foi até multada por causa disso. Caso seja eleito, serei um prefeito visível, que não desaparece da cidade em momentos importantes, ativo e com uma equipe de técnicos qualificada para me auxiliar, assim como fiz nos meus dois mandatos anteriores.
As pesquisas apontam ACM Neto como primeiro lugar invicto, tendo uma diferença mínima entre o senhor e Nelson Pelegrino. Com tal campanha, o senhor acha que concorrerá com o candidato democrata no segundo turno?
Não tenho dúvida de que estarei no segundo turno. Só falta saber com qual adversário. A pesquisa é um retrato da vontade momentânea de uma parte da população. Não define eleição. Se fosse assim, Paulo Souto teria vencido a eleição para o governo em 2006 e o próprio ACM Neto seria o atual prefeito de Salvador. Por isso, é bom sempre analisar com cuidado os resultados apresentados e continuar a trabalhar na campanha.
A revista Época trouxe a seguinte notícia: o deputado ACM Neto (DEM), de 33 anos, fez piada com a idade de seu adversário do PMDB, o radialista Mário Kertész, de 67 anos. A sua idade interfere em sua candidatura?
Traz o benefício da maturidade e da experiência. Sinto-me totalmente preparado para enfrentar e vencer os problemas de Salvador. A afirmação do deputado, além de preconceituosa, revela a sua falta de maturidade política para encarar os seus adversários. É bom ele não se esquecer da história e de que o seu avô, com muito mais idade do que eu, governou com muita competência a Bahia.
O site Paulo Afonso Notícia declara o seguinte: “(Mário Kertész) tenta utilizar as ondas da rádio Metrópole FM com objetivo de construir uma imagem de homem capaz, competente, dinâmico.” Ser diretor e radialista de uma emissora de rádio traz vantagens sobre os outros candidatos?
Não enxergo as coisas dessa maneira. Na verdade, não levo vantagem alguma. Dos principais candidatos, fui o último a entrar na disputa e o único que não é político. Como disse, sou administrador. A matéria desse site está equivocada. Sempre trabalhei com seriedade e competência em tudo que fiz. Foi assim durante toda a minha vida. As pessoas sabem e reconhecem isso. Não preciso criar imagem em rádio para me estabelecer. Quem me conhece ou já trabalhou comigo sabe do que estou falando.
O que levou o senhor a romper com o Carlismo? E suas ações no passado, ligadas a esse movimento, podem de certa forma ‘respingar’ na sua candidatura?
Não acho que isso vá prejudicar minha candidatura. Nunca neguei a influência de ACM na minha formação política. O considero um dos maiores políticos que já convivi. Todos os baianos sabem da sua capacidade administrativa e dedicação a nossa terra, coisa que Salvador necessita agora. Mas, ACM era uma pessoa centralizadora e de temperamento difícil. Por isso, me distanciei. Concluindo, me afirmo como único candidato que pode trazer o melhor do carlismo, que é o amor por Salvador, e o melhor do petismo, a capacidade de agregar pessoas em torno de ideias.
 

Da esquerda para a direita: Elizabete (15 anos), Débora (15 anos)
e Kamilla (14 anos). 
 P.S.: Este Blog possui um cunho estritamente educacional. A entrevista, aqui exposta, foi realizada na disciplina de Língua Portuguesa, sob a orientação da Profa. Msc. Solange Santana. Além da produção textual contextualizada e significativa, objetiva-se promover o senso crítico dos jovens educandos.

O gênero textual Entrevista

Segundo Hoffnagel (2003), o gênero textual entrevista é visto como “uma constelação de eventos possíveis que se realizam como gêneros (ou subgêneros) diversos. Assim, teríamos, por exemplo, entrevista jornalística, entrevista médica, entrevista científica, entrevista de emprego, etc.” (Hoffnagel, 2003: 180). Marcuschi (2000), por sua vez, pontua as diferenças existentes entre os diversos tipos de entrevistas: há eventos que parecem entrevistas por sua estrutura geral de pergunta e resposta, mas distinguem-se muito disso. É o caso da ‘tomada de depoimento’ na Justiça ou do inquérito policial. Ou então um ‘exame oral’ em que o professor pergunta e o aluno responde. Todos esses eventos distinguem-se em alguns pontos (em especial quanto aos objetivos e a natureza dos atos praticados) e assemelham-se em outros.
 
Seguindo os preceitos de Luiz Antônio Marcuschi, pode-se dizer que esse gênero possui itens gerais comuns a todos os subgêneros, a saber:

1) sua estrutura será sempre caracterizada por perguntas e respostas, envolvendo pelo menos dois indivíduos – o entrevistador e o entrevistado;
2) o papel desempenhado pelo entrevistador caracteriza-se por abrir e fechar a entrevista, fazer perguntas, suscitar a palavra ao outro, incitar a transmissão de informações, introduzir novos assuntos, orientar e reorientar a interação;
3) já o entrevistado responde e fornece as informações pedidas;
4) gênero primordialmente oral, podendo ser transcrito para ser publicado em revistas, jornais, sites da internet.

Importa esclarecer que os itens que diferenciam um subgênero de outro estão relacionados com o objetivo, a natureza, o público-alvo, a apresentação, o fechamento, a abertura, o tom de formalidade, entre outros.
 
P.S.: Nos próximos posts, publicaremos algumas entrevistas realizadas pelos alunos e alunas da Turma 8811 (Química-IFBA/Salvador). Importa esclarecer que a escolha dos temas e dos entrevistados foi livre. Não houve, portanto, imposição para que escolhessem "esse" ou "aquele" entrevistado.
Acreditamos na educação como prática de liberdade e como forma de promoção da consciência crítica. 
 
REFERÊNCIAS:
HOFFNAGEL, J. C. Entrevista: uma conversa controlada. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucena , 2003. 
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucena , 2003. 

sábado, 25 de agosto de 2012

O documentário de Walter Carvalho sobre Raul Seixas

Por Wilson Yoshio.blogspot
De O Estado de S. Paulo

Documentário de Walter Carvalho revolve feridas e tem potencial para provocar uma nova onda de ‘raulseixismo’
 
Jotabê Medeiros
DivulgaçãoRock around the clock: viciado em rock’n’roll desde sempre

Na onda dos novos documentários que fazem a arqueologia dos primórdios da cultura pop nacional, Raul - O Início, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho, é o filme que vem para reaproximar a lenda histórica da emoção que um dia ela causou. Raul Seixas (1945- 1989), o mito fundador do rock nacional, ressurge inteiro em sua capacidade de mobilizar, causar ternura, rebelião, beleza, atração, repulsa, orgulho, piedade, espanto.
 
Para reproduzir uma definição do próprio artista, é um filme que deve catapultar uma nova onda de “raulseixismo”. Segundo dados da produção, mesmo 20 anos após sua morte, Raul Seixas é um dos artistas que mais vendem discos no País, cerca de 300 mil cópias ao ano. Seus álbuns podem ser encontrados na loja Amoeba de Los Angeles ou num shopping center de Gifu, no Japão.
 
No início do filme, um sósia de Raulzito desliza por uma autoestrada com uma motocicleta, e a essas cenas são contrapostas imagens do filme Sem Destino (Easy Rider), ícone da contracultura e essência do road movie. A trilha do passeio funde rock’n’roll e baião, cultura americana e periferia de Salvador, imagem e reflexo, o som e o eco. É como se o diretor dissesse: inicio o trabalho de decifrar essa esfinge, mas não prometo a ninguém que chegarei ao fim ou que não tomarei partido dela.
 
Seria mesmo impossível: encontro de Jackson do Pandeiro com Jim Morrison, de Sid Vicious com Zé do Caixão, Elvis Presley com Odair José, Raul desfila seu charme, intuição e genialidade ao longo das 2 horas de sessão e se mostra um dos mestres irresistíveis da cultura brasileira. Performer ensandecido, artista que intuía que a razão não podia ser a única moeda criativa (e foi em busca de outros motivos), ele ressurge frente ao fã a todo momento como um Cristo ressurrecto, seja nas lágrimas das filhas, na determinação das ex-mulheres ou no testemunho dos amigos e dos inimigos.
“Ao começar, minha única intenção era conhecer Raul Seixas. Eu não faço filme para provar nada”, diz o diretor Walter Carvalho. “Achava e continuo achando que um mito como Raul não tem explicação e nem deve ter. Ele está no inconsciente das pessoas.”
 
O esforço biográfico desencavou imagens inéditas de diversos arquivos e cerca de 94 (50 estão no filme) entrevistas em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro e no exterior (Suíça e Estados Unidos), reunindo ex-mulheres, filhos, amigos de infância, músicos, profissionais da área musical e parceiros, como Paulo Coelho. O desfile de familiares e amigos é vertiginoso - quando Dakota, o neto de Raulzito, surge em cena, exibindo a mesma cara desafiadora e alegre do avô, um colar de couro neo-hippie no pescoço, a disposição de ouvir os discos do velho no quarto, é como uma redenção para o espectador.
 
Raul não nutria grande simpatia por Caetano Veloso, um dos depoimentos mais marcantes do filme, e a MPB dita “universitária” sempre teve preconceito em relação à obra dele - considerada por intelectuais da música como simplista, “tresacordista” demais, escorada muitas vezes numa sonoridade típica do brega nacional. Ainda assim, é tocante a sinceridade de Caetano ao admitir a genialidade da canção Ouro de Tolo e do seu verso preferido (“Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado: macaco, praia, carro, jornal, tobogã; eu acho tudo isso um saco”).
 
 
 
 
O documentário provoca grandes cenas de humor involuntário, como quando confronta Paulo Coelho, escritor e ex-parceiro de Raul Seixas, com seu contrato com uma seita satanista. Paulo Coelho não voltou para rescindir o contrato, diz seu ex-mestre, o que deixa o autor (que ficou muito rico) apreensivo.
 
A habilidade de colocar o dedo nas feridas traz rancores adormecidos à tona: traições conjugais, brigas, esquecimentos. A equipe do filme deixa sem graça o irmão vivo de Raul Seixas, Plínio, com a lembrança de que a canção Meu Amigo Pedro foi feita em sua “homenagem”. Diz assim: “Hoje eu te chamo de careta, Pedro/E você me chama vagabundo”.
 
As cenas que mostram os últimos shows de Raulzito, já decadente, são dolorosas. Mas sempre muito reveladoras. O encontro no palco com o antigo partner, Paulo Coelho, o surpreende e maravilha. Mas, no camarim, Paulo Coelho não consegue ser senão protocolar com Raulzito, que quer abraçá-lo, conversar com ele. Raulzito tinha se tornado um fardo, um constrangimento para os amigos.
 
Não é um documentário definitivo, haverá sempre uma parte inédita de Raul a ser revelada. Baiano alegre que, aos 9 anos, imitava Elvis Presley, e, aos 20, já tinha mudado a face da música brasileira, Raul contaminou gerações com seu toque libertário.
 
Preste atenção
1. Raul e Paulo Coelho, em turnê, brincando de dançar sapateado e fazendo micagens lembram os Beatles (Os Reis do Iê Iê Iê)
2. Foi o irmão de Raul, Plínio, quem forneceu cenas de Super-8 inéditas e gravações em fita (Raulzito mandando recados)
3. Atores são distribuídos pelo filme. No ritual de sacrifício de animais da seita satânica, quem atua é um sósia, e não Raulzito
4. No último show de Raulzito, em Brasília, o cantor vira o microfone para o público e capta áudio da multidão gritando “Raul”
5. A última mulher de Raulzito, Helena Coutinho, foi namorada de adolescência do diretor Walter Carvalho durante dois anos
 
RAUL - O INÍCIO, O FIM E O MEIO
Direção: Walter Carvalho.
Gênero: Documentário (Brasil/2011, 120 min.).
Classificação: 12 anos.