Almodóvar sempre me inquieta.
Remexe em mim tantas emoções que me permito ziguezaguear (e nunca paralisar-me) por entre os momentos de sensibilidade que ele cria. Ontem assisti ao seu novo filme, A pele que habito, e mais uma vez deparo-me com seus temas prediletos – a mudança de sexo, as relações de poder, o universo feminino – e com um mosaico de sentimentos e de gêneros, muitas vezes, em uma única cena.
Acredito que ao misturar tragédia, comédia e melodrama, permeando seu filme ainda de ironia, humor e um discurso gélido, Almodóvar promove uma profunda discussão não só sobre a relação do homem com a ciência, mas também a respeito do que há (e há tanta coisa) sob a pele que habitamos.
Por mais que o cirurgião plástico (Antonio Banderas) se vingue terrivelmente de Vicente, transformando-o em Vera (Elena Anaya) – que é retrabalhada à exaustão e de maneira cirúrgica para corresponder a uma imagem perdida – seu ser anterior/interior persiste e existe. Sim, há um toque perverso e cruel! Sim, há o estranhamento! Eis Almodóvar!
Solange Santana
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