quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Em homenagem ao maior dramaturgo brasileiro

Hoje, 23 de agosto, Nelson Rodrigues completa 100 anos!  Digo "completa" porque para mim, e para muitos outros leitores, Nelson nunca morreu: vive e revive a cada nova leitura, a cada nova representação, a cada nova adaptação!




Além de romances, crônicas e contos, Nelson escreveu dezessete textos dramáticos, subdivididos didaticamente por Sábato Magaldi (1993) em três núcleos temáticos: peças psicológicas[1], peças míticas[2] e tragédias cariocas[3]. O crítico, no entanto, faz tal divisão com rassalvas, porque, segundo ele, as características nunca se mostram isoladas, já que as psicológicas absorvem elementos míticos e da tragédia carioca, as míticas não abandonam o elemento psicológico e afloram a tragédia, enquanto que esta assimila o mundo psicológico e o mítico das obras anteriores. 

Em seus textos dramáticos, Nelson Rodrigues põe em foco o subúrbio carioca – com exceção de Álbum de família que tem como cenário para a maioria das cenas a fazenda de Jonas, em São José de Golgonhas, nome que segundo Sábato Magaldi “parece fundir o Gólgota de Cristo e Congonhas, a cidade colonial que ostenta os profetas de Aleijadinho” (MAGALDI, 2004, p. 51) – também ligado a um fundo supersticioso, popular e erótico, sempre buscando se contrapor aos padrões estabelecidos, já que sua obra possui como cerne a crítica social. 

É essa proximidade com a realidade, mesmo em peças como Vestido de Noiva, na qual temos três planos – realidade, memória e alucinação – e Viúva, porém honesta, classificada pelo dramaturgo como farsa irresponsável, por exemplo, que Hélio Pellegrino parece aludir quando analisa a forma pela qual Rodrigues vai construindo seus textos dramáticos. Segundo o psicanalista, escritor e poeta brasileiro, o dramaturgo


[...] da síntese intuitiva, isto é, da poesia, parte para a análise de caracteres, isto é, para a prosa. [...] Como Balzac, Nelson Rodrigues sabe que, no ambiente provinciano, nos pequenos meios alagados pela rotina, no subúrbio – que é a província do dramaturgo – se escondem as mais intenções paixões humanas. [...] Amor e ódio, nascimento e morte, gênese e apocalipse continuam a ser os assuntos que o obsedam. Mas esses movimentos da alma estão encarnados, ganham finitude, miséria, cotidianidade, através da galeria de tipos criados pelo autor (PELLEGRINO, 1993, p. 157).


......................................................................................... Em breve, lançarei minha dissertação em formato de livro. Assim, aqueles que se interessam pelas obras de Nelson Rodrigues e de Bernardo Santareno poderão comprovar como o(s) diversos tipos de ironia(s) funciona(m) como estratégia (s) literária (s) e de problematização dos valores do mundo circundante em seus textos dramáticos!!!

Solange Santana


[1] A mulher sem pecado (1941), Vestido de Noiva (1943), Valsa no 6 (1951), Viúva, porém honesta (1957) e Anti-Nelson Rodrigues(1973).
[2] Álbum de família (1945), Anjo negro (1946), Dorotéia (1946) e Senhora dos afogados (1947).
[3] A falecida (1953), Perdoa-me por me traíres (1957), Os sete gatinhos (1958), Boca de Ouro (1959), Beijo no asfalto (1961), Bonitinha, mas ordinária (1962), Toda nudez será castigada (1956) e A serpente (1978).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será postado após avaliação.